A Câmara de Uberlândia promoveu, na tarde desta segunda-feira (05), uma audiência pública sobre “Empregabilidade LGBTQIAP+” com a proposta de discutir a situação do grupo de pessoas trans, gays e lésbicas no mercado de trabalho. O evento foi promovido pela vereadora Amanda Gondim (PDT), relatora da Comissão de Direitos Humanos, Sociais e do Consumidor e presidente da Comissão de Direito das Mulheres.
Gondim disse que o tema é de extrema importância julgando que a independência financeira é um direito resguardado que não se torna uma realidade para o grupo LGBT. A vereadora também questionou a falta de dados sobre o número de pessoas trans no mercado de trabalho, como um levantamento sobre emprego e renda com diagnóstico e panorama real de grupos minoritários a ser feito pelo IBGE, o que dificulta a realização de políticas públicas efetivas. Ela acrescentou que estatísticas sobre o grupo atualmente são feitas por consultorias e que o emprego para pessoas trans é uma questão de qualidade de vida.
Por outro lado, Amanda Gondim apontou o que seria um “olhar higienista das empresas” nas contratações de pessoas trans, um termo ideológico que debate sobre segregação de espaço e pessoas, num sentido de que as empresas apresentam um “padrão heteronormativo” no ambiente de trabalho, o que leva as pessoas a ter medo de manifestar suas orientações por conta dos estigmas e da violência que podem vir a sofrer.
A psicóloga e pesquisadora de diversidade e inclusão de pessoas LGBTQIAP+ no ambiente de trabalho pela UFU, Catarina Ribeiro, salientou que a falta de estudos e dados sobre o mercado de trabalho para a população LGBTQIAP+ é visível também na área acadêmica, quando no local se é pouco discutido sobre esse assunto e nas empresas a inclusão acontece hoje só por cotas.
Sobre a população LGBTQIAP+, a psicóloga disse que os casos mais freqüentes são de discriminação ativas e as chamadas de “microagressões”, o que dificulta a inserção no mercado de trabalho, fazendo com os jovens desse grupo se sintam mais inseguros para se adentrar nesse mercado. O que se evidencia com essas práticas, segundo Ribeiro, é que essas pessoas focam mais no empreendedorismo ou em empresas que sejam realmente inclusivas e quando não, procuram se esconder sobre quem elas realmente são.
Os impactos negativos está no bem estar e na saúde física e psicológica ao desencadear um medo constante em todos eventos que a pessoa ocupa. Outro aspecto levando pela psicóloga é que legislações em outros países mostram impactos positivos na inserção da população LGBT em faculdades e mercado de trabalho.
A especialista em inclusão de pessoas travestis e transexuais nos meios político, acadêmico e social, Alice Helena, fez um desabafo sobre os casos de exclusão e subemprego nos quais afirma que as pessoas trans são submetidas. Ela explicou que utiliza uma pirâmide para exemplificar a condição da pessoa trans ao dizer que a família é a base na qual muitas são excluídas da família ao revelar a orientação sexual. Em função disso, os estudos ficam comprometidos, julgando que o apoio familiar é fundamental para dar sequência nas séries escolares e nos cursos de capacitação. O resultado, segundo diz a especialista, são, em muitos casos, pessoas trans “atrás de uma vassoura” e na prostituição, ou seja, em atividades domésticas, muitas vezes humilhadas e pior, na prostituição, atividade por meio da qual muitas são assassinadas.
Alice fez um relato pessoal no qual desabafou que, apesar do apoio que sempre prestou no meio político, por exemplo, nunca recebeu uma proposta de emprego ou nunca lhe foram cumpridas as promessas de trabalho e ainda questionou o estigma de que as pessoas trans precisam mostrar serem mais eficientes que as demais para se manter em um posto de trabalho. Nesse sentido, ela diz que o nível de exigência tem de ser igual para todos.
Sobre as empresas, a especialista criticou as ações das empresas em levantar bandeiras coloridas em datas e mês específicos em referência ao movimento LGBT, mas sem garantir o direito de trabalho para essa população. Ela ainda acrescentou que essa população é protagonista nos índices de desemprego, na fome e miséria e disse ser necessário que se façam parcerias com empresas privadas e internacionais para capacitar essa população e garantir a entrada no mercado de trabalho.
“Nossa população está cansada de abrir o jornal e ver que mais uma se foi”, disse ao se referir aos riscos da prostituição aos quais muitas estão submetidas.
Nesse momento, a vereadora Amanda Gondim disse estar elaborando um indicativo de projeto ao prefeito municipal para que se destine 3% das vagas a serem ofertadas por empresas contratadas pelo Executivo para demais serviços ao grupo LGBTQIAP+. A parlamentar disse ainda estar aberta também para ouvir outras propostas.
Cláudia Guerra (PDT) também participou da audiência e se disse sensibilizada com o depoimento de situação de exclusão dessa população e disse ser importante conseguir implantar a Comissão de Direitos pela Diversidade, que atualmente não encontra votos suficientes, ainda que seja necessária a mobilização social por meio de uma petição.
A audiência na íntegra pode ser assistida através do link: https://bityli.com/IzPIy
Fonte: Câmara Municipal de Uberlândia (Emiliza Didier)