A Câmara de Uberlândia promoveu uma audiência pública para falar sobre a perda gestacional, neonatal e infantil na tarde desta segunda-feira (18). O evento faz parte da parte das atividades da Semana de Conscientização da Perda Gestacional e Neonatal, aprovada em maio deste ano e conhecida como “Lei Elis”, e contou com a participação de mulheres e profissionais da saúde que vivenciaram a perda de um bebê e vivenciam essa situação em suas profissões.
A audiência foi conduzida pela presidente da Comissão de Direito das Mulheres, Amanda Gondim (PDT), e pela relatora e autora da Lei 13.496/21, a “Lei Elis”, Cláudia Guerra (Guerra). Para Gondim, o debate é uma oportunidade para que a sociedade de Uberlândia conheça mais sobre essa temática e uma forma de dar voz ao grupo que surgiu. A parlamentar citou algumas ações para melhorar o atendimento do município, como a disponibilidade de psicólogos nos centros hospitalares para atendimento dos pais desde o diagnóstico de perda do bebê no útero ou momentos após o nascimento, até no pós-operatório e a manutenção de prontuário com perdas neonatais a fim de se evitar questionamentos quanto ao ocorrido.
Cláudia Guerra contou a experiência com o grupo conhecido como “Mães em chamas”, no qual a professora universitária e integrante, Natália Mundim, passou pela perda gestacional e pode ensinar às demais que “vida é vida, independente do tempo de vida” e que, ainda que breve, merece ser vivida e fazer parte da memória da família.
A “Lei Elis” foi o primeiro projeto de sua autoria da vereadora a ser votado na Câmara Municipal. A parlamentar disse que se sente honrada pela temática e pela iniciativa ter despertado outras cidades a implementar um trabalho de conscientização nos mesmos moldes da lei em Uberlândia.
A lei leva o nome de Elis, filha da Natália Mundim, que faleceu 18 minutos após o parto. Tendo a filha diagnosticada previamente com síndrome de Patau, Mundim prosseguiu com a gestação, respeitando o tempo de vida da criança, mas, antes do nascimento, escreveu para o hospital pedindo que a filha não fosse levada à UTI, nem passasse por procedimentos de ressuscitação. A intenção era passar o máximo de tempo ao lado da criança num momento que chamou de “sagrado e de valor difícil de se colocar em palavras”.
O momento deu oportunidade para que Mundim registrasse fotos e para que os membros da família pudessem conhecer a Elis. A professora, contudo, diz que seu caso foi uma exceção e que a maior parte das mães não tem essa oportunidade.
A experiência levou Mundin a conseguir, na justiça, a doação do leite. Hoje ela é integrante da Casa Manacá com outras nove mulheres, um coletivo que incentiva e acolhe famílias que passam pela perda neonatal e gestacional.
A audiência também contou com uma palestra da psicóloga e Phd na área de saúde materna, Dra. Heloisa Salgado. A pesquisadora exibiu fotos de famílias que estavam vivendo o óbito de um bebê, salientando que aquelas foram oportunidades para o registro de memórias. Salgado também falou sobre a importância do protocolo perinatal nos hospitais para garantir e oportunizar momentos de contato e memórias. Ela citou os protocolos do Canadá, França e EUA para dizer que os momentos não são oportunizados intuitivamente pelos profissionais da saúde por não terem prática nesse processo.
A psicóloga é uma das autoras do livro “Como lidar com o luto perinatal”, uma obra que se baseia em aporte teórico e esclarece etapas do processo de luto, dentre elas, a de remomorar a perda, o que, no luto gestacional tem pouco de concreto. Por isso, Salgado explica a necessidade de apoio às famílias por parte das instituições de saúde para que se ofereça maior possibilidade de memória.
A fotógrafa belo horizontina, Paula Beltrão, também faz parte do rol de ativistas em prol das melhores lembranças e transformação de momentos de dor em amor para mães e pais que passam pela perda neonatal. A profissional, que fotografa partos e famílias, também debateu nessa tarde. Ela disse que a experiência da mortalidade neonatal a levou a estudar e conhecer os protocolos praticados em países como Londres.
Pela experiência que acumula, indo às maternidades para fazer atendimento às famílias após acionamento dos hospitais, Beltrão diz que o ambiente é de pavor e medo e que os pais só compreendem a perda do bebê com o passar do tempo. Ela defendeu a capacitação dos profissionais para o luto neonatal e gestacional, explicando que qualquer fala pode dificultar ainda mais o processo da perda. Ela diz que a fotografia traz a sensação de pertencimento e coloca o bebê na vida das pessoas de forma enfática.
A audiência também contou com a presença da médica ginecologista, Silvia Caires, defensora do parto humanizado. Retomando as informações passadas pela psicóloga Heloisa Salgado, a médica disse que “intuitivamente saber agir não é suficiente”, mas que é necessário os pais disporem de informações e serem atendidos por profissionais da saúde capazes de orientá-los quanto a importância de se fazer registros diante da perda neonatal ou gestacional. Caires disse também que já presenciou partos em que as mães não tiveram a possibilidade de ver seus bebês por falta de preparo das equipes médicas.
A audiência já se encontra na íntegra no canal da Câmara Municipal de Uberlândia no Youtube, ou no link: https://bit.ly/3n4Ftec
Departamento de Comunicação (Emiliza Didier)