A Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara de Uberlândia que investiga ocorrências contínuas de falta de fornecimento, quedas e oscilações de energia na rede elétrica de Uberlândia nos últimos três anos seguiu com o trabalho de oitivas na tarde desta terça-feira (30). Ao todo foram ouvidas quatro das seis pessoas intimadas para esclarecer os problemas acarretados com a queda de energia, especialmente no ano de 2023, tanto por parte do quadro de funcionários da Concessionária de Energia Cemig, quanto por parte de consumidores que foram lesados e tiveram perdas financeiras, por exemplo, com a queima de aparelhos e/ou perda de mercadorias.
O trabalho foi conduzido pela presidente da CPI, vereadora Liza Prado (PRD), ao lado dos membros da Comissão, os vereadores Antônio Augusto Queijinho (Cidadania) e Odair José (Acante). Os depoentes convocados para depor estão listados na Ação Civil Pública com vistas à ressarcimento a consumidores lesados proposta pelo Ministério Público pela qual a justiça recusou um acordo que resultava à Cemig “uma multa muito insignificante” em vista dos casos insistentes de queda e oscilação de energia, descaso no atendimento e na resposta aos consumidores e na falta de manutenção da rede elétrica, como apontou Liza Prado.
A gerente de Obras do Complexo Hospitalar UMC, Maria Amélia, foi a primeira a prestar depoimento com relatos sobre a perda de equipamentos médicos, resultando em perdas financeiras em mais de R$100 mil que ainda não foram ressarcidas pela Cemig. Prejuízos para a saúde de pacientes e transtornos com a remarcação de cirurgias cardíacas devido a perda de equipamentos e instabilidade de energia no ano de 2023 também foram relatados, assim como a instabilidade dos geradores de energia do hospital que passaram a normalizar mais este ano.
Fora do âmbito institucional, dois outros consumidores relataram perdas financeiras também com a queda de energia e queima de equipamentos. O primeiro, o comerciante Fernando Pereira de Jesus, diz ter perdido as carnes que congelava em seu açougue no bairro Aclimação e estimou um prejuízo em cerca de R$ 200 mil com a queda de energia entre os meses de outubro e novembro de 2023. Ele foi orientado pelo vereador Antônio Agusto Queijinho a entrar com uma ação no juizado especial, acompanhado por um advogado, para pedido de indenização no valor máximo de de 40 salários mínimos, segundo a competência dessa corte.
A dona de casa, Dayane da Costa Rodrigues, moradora do bairro Shopping Park, relatou a ocorrência de falta de energia também em outubro de 2023, próximo à data do Dia das Crianças, quando, em uma tarde, todos em casa ficaram sem energia por volta das 17h30 até a madrugada. Devido à queda da energia, os dois aparelhos de umidificador de ar dos filhos queimaram, ocasionando em um prejuízo para a saúde dos filhos até então - já que ela e o marido estão desempregados e sem condições de comprar novos aparelhos, e financeiros, na ordem total de R$ 430.
Os moradores dos bairros citados acima relataram, contudo, não haver tido problemas com falta de energia este ano, apenas relataram casos de baixa intensidade ou oscilação no fornecimento de energia pela Cemig.
Falta de manutenção na rede e de pessoal qualificado
O depoimento do coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores da Cemig e técnico elétrico da Concessionária, Emerson Andrada, serviu como elemento agregador e norteador para os trabalhos da CPI na tarde desta terça-feira (30). Ele afirmou que os problemas de queda de energia e oscilações têm sido recorrentes em todo estado de Minas Gerais e também em outros estados devido a uma mudança no modelo do sistema energetico brasileiro entre os anos de 1995 e 1998 que optou por priorizar a alavancagem dos lucros das empresas de energia elétrica no país em detrimento de um serviço voltado para a segurança do cidadão.
Andrada também relatou a incapacidade da da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em fiscalizar o setor elétrico, a insuficiência no quadro de pessoal da Cemig e, sobretudo, a falta de manutenção dos equipamentos como faltor agravante do problema do sistema elétrico em Uberlândia.
Segundo Emerson Andrada, a opção da Cemig em realizar investimentos a cada cinco anos com a compra de novos equipamentos onera o consumidor e não resolve os problemas de insegurança na rede de fiação. Ele explicou que equipamentos como os Bancos de Capacitadores - usados para correção do fator de potência ou para compensar o uso de energia reativa – não são apropriados para area urbana devido a demanda. A chave que sustenta esses equipamentos podem não suportar, causando estouro e ocorrência de fogo. Na area rural são indicados pelo baixo número de habitantes, ou baixa demanda. “Em area urbana o desempenho é baixo e coloca a população em risco”, disse.
O vereador Antônio Augusto Queijinho mostrou imagens de um poste pegando fogo e citou o caso em que 40 vacas foram mortas eletrocutadas em Monte Alegre de Minas em dezembro do ano passado quando uma rede de fiação caiu em um pasto após uma tempestade. No caso de incêndio em fiação no poste, o sindicalista explicou que a rede desarma e a dificuldade em se manter a segurança no caso das redes monofásicas.
Os problemas relativos à falta de manutenção da rede relatados por Andrada, como a necessidade de troca de cabos para evitar que se rompam, levou a presidente da CPI, Liza Prado, a solicitar, em ata, a relação de pedidos de manutenção registrados em software da Cemig relativos a Uberlândia para dar andamento aos trabalhos da CPI.
Fonte: Departamento de Comunicação (Emiliza Didier)