Dezessete consumidores foram ouvidos na tarde desta sexta-feira (23) pelos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI - que investiga casos de queda e oscilações de energia com prejuízos a moradores de Uberlândia e da zona rural com maior frequência desde 2022. Casos como o do empresário e produtor rural do ramo do café, Paulo de Oliveira, que até então contabiliza um investimento de R$ 3 milhões referente a um transformador de 250 Kva exigido pela Cemig para expansão da capacidade elétrica de sua produção, mas sem a instalação do mesmo desde 2021 por parte da concessionária, e os casos sucessivos de queda de energia e queima de peças de compressores de ar desde 2022, e até mesmo ocorrência de incêndio na UTI no Centro de Cuidados Paliativos Oncológicos, trouxeram relevância aos depoimentos.
A CPI da Cemig mira os casos do município, mas na última reunião para oitivas dos cidadãos de hoje atraiu também moradores de Limeira do Oeste e de Campina Verde que relataram os mesmos casos de insegurança da rede elétrica com picos e queda da rede como os de Uberlândia, bem como com os prejuízos financeiros sofridos após a queima de eletrodomésticos, a exemplo de geladeiras.
A quinta reunião ordinária foi presidida pela presidente da CPI, Liza Prado (Cidadania), e acompanhada pelos membros, Odair José (Avante) e Luiz Eduardo Dudu (Solidariedade), e pela vereadora Cláudia Guerra (PDT).
Perdas financeiras de empresários e contribuintes e de equipamentos
O empresário e produtor rural, Paulo Henrique de Oliveira, relatou que desde de 2021 aguarda a instalação de um transformador 250 Kva exigido pela Cemig para que fosse realizado um aumento da capacidade elétrica para atender a expansão da capacidade de produção do café nas atividades de secagem e beneficamento nas quais se dedica.
Oliveira explicou que o transformador antigo de 75 Kva não é suficiente para atender a ampliação do espaço de beneficiamento de café, o qual tem realizado desde 2021, e atendeu a uma exigência da Cemig de instalar um transformador de maior potência, de 250 Kva, o que fez desde aquele ano e cumpriu a contrapartida financeira do contrato com o pagamento de R$ 3 milhões à Cemig, mas desde então a Concessionária não cumpriu com o tratado. Mesmo recorrendo à Aneel, o empresário não tem conseguido êxito para receber a instalação do novo transformador. Ambos, Órgão e Concessionária, reconhecem o atraso e explicam que realizará a obra no prazo entre um a dois meses.
Paulo Oliveira recorreu à via judicial, o que tem feito a Cemig resistir em cumprir com o contrato, como acredita o empresário, que ainda disse sentir retaliação por parte da Concessionária. O mesmo explicou que, como é obrigado a dividir a produção de 18 mil sacas anuais entre a parte de secagem e benefiamento, tem contabilizado perdas financeiras decorrente da produção em torno de R$ 1,260 milhões ao ano, ao ser obrigado a vender metade da produção com menor qualidade a um preço de R$ 800/saca, sem o beneficamento, enquanto poderia estar recebendo R$ 940/saca como as demais nove mil sacas.
A comerciante Poliana Nunes Pereira disse que perdeu quatro mil dos 22 frangos que produzia para o abate. O fato aconteceu em 14 de novembro de 2023, com uma queda de energia pela manhã que durou três horas e prejudicou o abastecimento de água, já que a bomba de água queimou, e foi agravado pelo calor de 40 graus da época. Segundo ela, que tem uma propriedade entre Uberlândia e Miraporanga, teve uma perda significativa de capital, que para ela é muito por “uma energia que acaba sem aviso prévio”.
De outra maneira, em perdas que tem recaído sobre a saúde de pacientes oncológicos, a representante do Grupo Luta pela Vida, Lilian Marcia Ribeiro, explicou que o Centro de Cuidados Paliativos, localizado no Alto Umuarama e inaugurado em 2022, tem sofrido, desde então, com as quedas de energia na região e com sucessivos casos de equipamentos danificados e peças queimadas. Os dois compressores de ar, usados para limpar os pacientes, já apresentaram problemas e equipamentos do laboratório de pesquisa para tratamento das doenças agressivas sofreram danificações com oscilações de energia e um deles estourou. Ribeiro ainda relatou que uma tomada estourada causou incêndio na UTI do Centro. As análises técnicas, como relatou, mostraram a baixa capacidade de energia como causa dos problemas nos equipamentos.
CPI aprovou pedido para que a Cemig instale um gerador de energia no Centro e uma visita técnica na unidade para acompanhar de perto os prejuízos com a queda de energia no local.
Por outro lado, o superintendente do Hospital de Clínicas da UFU, Marcus Vinícius de Páuda Netto, afirmou que o eetor de engenharia do hospital não tem reclamado da falta de energia. Segundo ele, as oscilações rápidas não têm sido sentidas e que geradores suprem a demanda elétrica da unidade. “Não tem uma oscilação a ponto de desligar”, disse ao lembrar que em 2023 não recebeu reclamações por parte do setor.
Cidadãos e coletivos
Divino Alann Rodrigues, morador do bairro Jardim Europa, contou que teve a TV queimada com os picos de energia. Como todas as peças queimaram, isso impossibilitou a recuperação do equipamento.
O síndico do condomínio Franco Residence, localizado no bairro Jardim Finotti, Marcelo Resende, disse que os moradores dos 28 apartamentos de uma torre com oito andares têm se deparado com problemas de mobilidade devido a quedas de energia, o que danificou peças do elevador e causou um prejuízo de R$ 12 mil a todos eles. Idosos, pessoas com problemas no coração e mães com crianças de colo têm sido os mais prejudicados entre os moradores.
Ele explicou que foram identificadas falhas na potência de energia para suportar o elevador. A média conforme resolução da Aneel para elevadores é de 0,9 e a do condomínio estava em 0,47. O fato o levou a solicitar medição à Cemig no ano passado e este ano para confrontar com o laudo técnico que ele conseguiu após contratar uma empresa para analisar o caso.
Prejuízos em municípios vizinhos
O vereador de Limeira do Oeste (MG), Ailton de Moraes Cavalcanti, compareceu à 5ª reunião da CPI da Cemig de Uberlândia de hoje (23) alegando que no município onde mora há um descaso da Cemig no fornecimento de energia, com energia baixa e alto valor na cobrança pelo fornecimento. Segundo relatou, moradores têm tido grandes prejuízos com geladeiras e ar-condicionados queimados e portões elétricos sem abrir devido a pouca força da energia. Produtores de leite também tem perdido produção com o baixo fornecimento de energia.
O secretário municipal de Habitação de Campina Verde, Ildo Arantes Coimbra, reclamou de quedas constantes de energia no município, o que tem acarretado prejuízo para os produtores rurais. Disse que “falta comunicação na Cemig”, uma vez que o canal do whatsapp demora para atender os contribuintes, trazendo desânimo para continuar a registrar uma reclamação na Concessionária. Ele reclamou ainda de deputados estaduais que não têm se empenhado para resolver o problema da falta de energia em Campina Verde frente à Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Departamento de Comunicação (Emiliza Didier)