A Escola do Legislativo da Câmara de Uberlândia promoveu uma palestra muito importante na tarde desta quarta-feira (08), intitulada “A evolução das guerras: dos conflitos convencionais às guerras híbridas” e proferida pelo doutor em Ciência Política pela USP e professor do curso de Relações Internacionais e coordenador do núcleo de estudos e negócios em Oriente Médio da Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM - de São Paulo, Gunther Rudzit. O evento foi aberto ao público e contou com a participação de jovens interessados no tema.
O professor fez apresentação do tema se interagindo com os participantes, mostrando que a imagem que mais explica a realidade de um mundo que sempre está em guerra é a sequência da paz, guerra, paz, na qual a lógica está num comando civil que decide quando a nação entra em guerra e essa liderança decide quando a guerra termina.
Rutzit, que também é professor convidado da Universidade da Força Aérea Brasileira desde 2016, explicou que o termo ‘guerra’ foi discutido no ocidente pela primeira vez pelo militar da Prússia, Carl von Clausewitz na obra “Vom Kriege”, que traduzido significa “Da Guerra” e sublinhou que guerra significa uma continuação da política por outros meios determinada pela liderança civil.
Enquanto a guerra é resultado de uma violência organizada para se obter objetivos políticos os quais nunca mudaram, a forma, porém, de se fazer guerra, conforme apresentada na palestra, mudaram ao longo do tempo. O internacionalista mostrou quatro fases da guerra, sendo que a primeira geração passou a existir em 1648 e foi até 1860, representada pelo Tratado Westfália, quando o Estado soberano passou a existir e houve a separação entre os civis dos soldados, momento em que os uniformes ganharam importância. Outra característica desse tempo era a formação de linhas e colunas pelas quais os soldados marchavam e atiravam. A cultura dessa época era da ordem e disciplina com a hierarquia sendo colocada em primeiro lugar.
A segunda geração, de 1860 a 1918, é marcada pela introdução de tecnologias no armamento, como rifles e metralhadoras, atirando sem alvo em grupos menores de soldados, fase essa em que os franceses desenvolveram na Primeira Grande Guerra Mundial. Como esse período foi marcado por muitas mortes, Rudzit, cerca de seis mil soldados mortos durante quatro anos de guerra, buscou-se uma alternativa para se fazer guerra.
Já na terceira geração, de 1918 a 1999, a forma de guerra foi marcada pela abertura de brechas, buscando desequilibrar os inimigos, uma lógica usada pelos alemães em 1939, a exemplo de como foi a Guerra do Golfo em 1991.
A quarta geração foi surge em 1999 a partir da Guerra Fria entre EUA e ex-URSS, visto a impossibilidade de confronto entre as duas potências, uma vez que seus armamentos eram capazes de destruir a terra 24 vezes. O que se percebe nos tempos atuais é a perda do monopólio da guerra com a entrada de outros autores, quais sejam não-governamentais, com nova característica de serem sem hierarquia dos combatentes. “Se não tem a quem destruir, não tem como destruir a estrutura de comandando porque cada pequena unidade age por si próprio”, explicou o professor, complementando que o tamanho das forças militares dessas unidades é menor que as dos estados, acostumados a colocaram em guerra milhões de soldados. Trabalhando com grupos de menor quantidade de combatentes, com no máximo dezenas de milhares de soldados, tem-se flexibilidade para uma ação maior, mais flexível e mais paciente. “Não correm o risco de perder o que tem que fazer, o que mudou a lógica de fazer a guerra”, disse.
Hoje, segundo Rudzit, esse confronto mudou, não são mais linhas de soldados em confronto, agora são embates econômicos e políticos na mídia e uma disputa social que se dá em diversos campos de combate e ao mesmo tempo.
Confira a palestra na íntegra no canal da Câmara Municipal de Uberlândia no Youtube ou direto pelo link: https://bit.ly/3DxuC2x
Fonte: Departamento de Comunicação (Emiliza Didier)